Nascido na Umbria, numa família de viticultores, estudou agronomia, mas a enologia acabou por ter um apelo mais forte. Há quatro décadas na Antinori, onde começou por trabalhar no projeto Castello della Sala, hoje é responsável por todos os vinhos da empresa, procurando um equilíbrio entre tradição e inovação.
As minhas memórias associadas à cortiça remontam há muitos anos atrás, quando era ainda aluno na escola de enologia de Conegliano Veneto. Tinha um professor de enologia brilhante, o Dr. Borghigno, que sempre que nos falava de processos de fabrico, destinados à obtenção de vinhos de qualidade, quase que de uma forma intimista, dizia: “Podem até produzir um vinho excecional, mas estejam cientes que a rolha de cortiça pode conservar, exaltar ou até mesmo destruir a qualidade que obtiveram. Por isso, quando estiverem no terreno, saibam escolher as corticeiras que melhor possam garantir-vos a qualidade”. Um conselho que segui sempre na minha carreira.
Foi em 1998, no restaurante Chez l'Ami Louis, Rue du Vertbois 32 em Paris, um almoço inesquecível com amigos muito estimados, entre os quais Robert Parker, Daniel Oliveros, famoso colecionador de vinhos de Nova Iorque, Mr Riedle e Jean-Louis René Chave, proprietário das caves com o mesmo nome, que produzem, há mais de 500 anos, o Hermitage.
Para acompanhar uma refeição incrivelmente fantástica, pedimos dois vinhos simplesmente estratosféricos: um Châteu Le Gai Magnum 1946 e um Leoville Poyferrè de 1900 em garrafa matusalém de 6 litros.O momento mais emocionante, atrever-me-ei mesmo a dizer comovente, foi a participação de todos na abertura da grande garrafa de Leoville Poyferrè, com 98 anos, usando de extremo cuidado e delicadeza. Demorando pelo menos 5 a 6 minutos, conseguimos extrair a rolha de cortiça completamente intacta. Um momento que nunca esquecerei, tanto mais porque se seguiu uma degustação que nos deixou estupefactos com um vinho que, graças à rolha de cortiça, mantinha-se ainda perfeitamente inalterado.
Estou firmemente convicto que, pelo menos em relação aos vinhos de envelhecimento de médio-longo prazo, a cortiça natural representa aquilo que de melhor podemos usar. Hoje, mais do que nunca, devemos recorrer a corticeiras que, através da investigação científica e de uma metodologia de controlo e de vanguarda, possam garantir uma qualidade da cortiça que não só não cause problemas ao vinho, como também contribua para a sua melhor evolução.
Não há dúvida que o som, no momento da extração de uma rolha de cortiça, é algo absolutamente familiar, mas além do som é a emoção única que aquele pequeno mas fundamental gesto nos provoca sempre que estamos prestes a abrir uma garrafa de vinho.
A sustentabilidade e a proteção do ambiente são elementos cruciais no nosso setor. Seguramente, entre os diferentes sistemas de vedação de uma garrafa (alumínio, plástico, borracha e tudo o resto que o mercado possa oferecer) a cortiça, enquanto elemento natural, representa o que de melhor podemos garantir em termos de respeito pelo ambiente. Além disso, como aliás já acontece há alguns anos, as corticeiras mais atentas a este princípio têm-se dedicado à reciclagem das rolhas utilizadas produzindo com elas mobiliário lindíssimo para uso doméstico e não só.
É um binómio incindível. O vinho nasceu com a cortiça e na cortiça encontrará sempre o seu vedante preferido. No entanto, será sempre exigido mais profissionalismo e seriedade ao setor de produção de cortiça.
A esperança que sejam preservados ou mesmo melhorados. Representam, não apenas a fonte única, por excelência, para a produção das rolhas, mas também uma fonte apta a conter a poluição atmosférica que preocupa, cada vez mais, o mundo.