Uma caixa negra, quadrada, que parece flutuar, suspensa, no parterre dos jardins de Serralves. Quase impercetível, uma «porta anónima» num grande monólito de linhas simples dá entrada a uma experiência imersiva, e até certo ponto, radical. «Micro | Macro» é o nome do pavilhão temporário que o artista japonês Ryoji Ikeda (1966, Gifu, Japão) concebeu para Serralves, o lugar de uma experiência sensorial e mental que o arquiteto português Nuno Brandão Costa concretizou num projeto de arquitetura efémera que utiliza apenas materiais ecossustentáveis, entre os quais, com grande destaque, a cortiça. A escolha do material, fornecido pela Amorim Cork Insulation, prende-se com a necessidade de criar uma sensação de isolamento, quase como um mundo paralelo que envolve os visitantes, levando-os a sentir, e simultaneamente a questionar, a relação entre o «infinitesimalmente pequeno e o domínio infinitamente vasto da Natureza».
Entre a escala de Plank (10-35 mm), a escala humana e a escala cosmológica, mais além do universo observável (mais de 1026m), somos levados a repensar a nossa posição no mundo, olhando para dentro e para fora também. Como explica o Ryoji Ikeda, «a finalidade subjacente à obra é fazer os espectadores mergulharem num absoluto extremo de escalas entre os limites bipolares através de sequências audiovisuais extremamente detalhadas. Será uma experiência bastante visceral, mas simultaneamente intelectual.» Pelas suas caraterísticas tácteis, e o seu comportamento térmico e acústico, a cortiça cria o ambiente propício para que esta experiência aconteça. O facto de ser um material 100 por cento natural, reciclável e renovável tornou ainda mais pertinente a opção pela cortiça.
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