Integrado nas celebrações do 150º aniversário do maior grupo de transformação de cortiça do mundo, o tributo incluiu a inauguração de uma escultura da autoria de Pedro Cabrita Reis, de uma rua com o nome Comendador Américo Ferreira Amorim e de um busto do empresário, da autoria de Artur Moreira. As cerimónias contaram com a presença da família, de responsáveis do Grupo Amorim e de representantes de diversas autoridades locais.
A manhã teve início com a inauguração de uma escultura da autoria de Pedro Cabrita Reis (rotunda da Rua de Meladas com a Avenida Albertina Ferreira de Amorim). Instalação, essa, que assenta no diálogo contínuo entre a harmonia da Natureza, representada por um ancestral sobreiro em aço, e a ação do Homem, representada por uma sólida coluna também em aço. O monumento é acompanhado por uma das icónicas frases de Américo Amorim: o futuro começa todos os dias. Seguiu-se a inauguração da Rua Comendador Américo Ferreira Amorim (antiga Rua de Meladas). Finalmente, fez-se a inauguração de um busto em bronze de Américo Amorim da autoria do escultor Artur Moreira junto à casa de família (Parque do Murado).
Nascido em Mozelos, concelho de Santa Maria da Feira, decorria o ano de 1934, Américo Amorim viria a tornar-se num dos maiores empresários portugueses de sempre. Apaixonado pela geografia, exímio cultivador de relações diplomáticas e detentor de um raro talento para os negócios, inicia aos 19 anos a transformação de uma herança de 2,5% de uma fábrica de rolhas fundada pelo avô em 1870, António Alves de Amorim, no maior grupo do setor da cortiça de que hoje é líder mundial. Um percurso que, encetado logo depois de terminado o Curso Geral do Comércio da Escola Académica, no Porto, ultrapassaria diversos condicionalismos industriais, várias crises económicas, diferentes regimes políticos, incontáveis barreiras territoriais e algumas revoluções dentro e fora de portas.
Uma personalidade vincada pela ousadia e pragmatismo em que as viagens, o contato com distintas culturas e a vivência em diferentes países num contexto de mudança política ocuparam papel central. De resto, seria numa primeira viagem realizada em 1955 pela Europa, acompanhado pelos irmãos José, António e Joaquim, os grandes companheiros de uma vida plena de triunfos, que o jovem Américo Amorim reforçaria a convicção de uma economia liberalizada, livre de bloqueios e à escala global. Começaria, então, a edificação do maior grupo de transformação de cortiça do mundo.
Uma preambular resolução é tomada em 1963 com a criação da Corticeira Amorim. Colocada a primeira pedra neste edifício de crescimento vertical, Américo Amorim liderará com inesgotável energia a abertura de uma unidade de isolamentos em Silves (Corticeira Amorim Algarve – 1967), o estabelecimento de uma unidade de pavimentos (IPOCORK – 1978) e a fundação de uma unidade de rolhas para vinhos espumosos (Champcork – 1983). Ainda no plano interno acompanha a construção de duas fábricas de preparação de matéria-prima (Ponte de Sor e Coruche).
Arrojado programa de crescimento que, e para amparar igualmente as válidas aspirações de sucesso além-fronteiras de Américo Amorim, seria ancorado com a entrada em bolsa em 1988. Os investimentos sucediam-se a um ritmo frenético (Amorim Cork América, Amorim France, Víctor & Amorim em Espanha, Amorim Cork Australasia, Indústria Corchera no Chile, entre outros), as empresas Amorim apostavam em Investigação & Desenvolvimento, e emergia o espírito Amorim escorado no orgulho, na atitude, na ambição, na iniciativa e na sobriedade. Esteios aos quais Américo Amorim juntava visão, convicção e firmeza que corporizavam uma das suas célebres máximas: “se me fosse possível, fazia todos os dias uma fábrica.”
Ao mesmo tempo, enquanto construía o maior grupo de transformação de cortiça do mundo, Américo Amorim diversificava apetências, interesses e investimentos. Banca (fundação do primeiro banco privado português – BCP), telecomunicações (consórcio vencedor do primeiro operador privado de telecomunicações móveis em Portugal – Telecel), turismo (joint-venture com o grupo francês ACCOR, o maior operador hoteleiro mundial), imobiliário (criação da Amorim Empreendimentos Imobiliários, aquisição da Sociedade Figueira Praia, S.A., aquisição de participação qualificada na Estoril-Sol, S.G.P.S., S.A.), energia (o Grupo Amorim integra a Finpetro - consórcio de investidores para a aquisição da Petrogal - Petróleos de Portugal) e vinhos (compra da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo) seriam apenas algumas das áreas alvo da atenção diligente de Américo Amorim. Um conglomerado económico que faria tal-qualmente caminho na esfera privada do empresário que entraria no capital da Galp, do Banco Popular Espanhol e da Tom Ford International, etc.
Líder incontestado entre os seus mais próximos, Américo Amorim sabia como ninguém congregar numa única direção as competências, méritos e o know-how complementar dos irmãos José (floresta e aprovisionamento), António (gestão industrial e responsabilidade social) e Joaquim (relações exteriores). Coroado Rei da Cortiça pela revista Forbes em 1992, Américo Amorim foi o primeiro português a quem o Conselho de Curadores da St. John University, de Nova Iorque, decidiu atribuir o Doutoramento Honoris Causa. António Ramalho Eanes, por proposta do Governo, entregou-lhe a comenda da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial, na classe de Mérito Industrial. A função de Cônsul-geral honorário da Hungria em Portugal foi outros dos papéis desempenhados com o garbo de sempre.
Marido extremoso, pai presente e avô orgulhoso, a quem nunca negava um largo sorriso, Américo Amorim casou com Maria Fernanda Amorim, tiveram três filhas, Paula, Marta e Luísa, e seis netos. Américo Amorim faleceu no dia 13 de julho de 2017.