A EDP lançou o desafio: criar um flutuador mais sustentável para os mais de 11 mil painéis e 25 mil flutuadores que compõem a estrutura do futuro parque solar flutuante na albufeira do Alqueva. Após um intenso trabalho de colaboração com a Corticeira Amorim e o fabricante espanhol Isigenere, ao longo de mais de 12 meses, foi possível desenvolver um material inovador, tendo por base um novo compósito de cortiça, e que será testado pela primeira vez num projeto de produção de energia renovável.
Esta nova solução combina cortiça – uma matéria-prima 100% natural, reciclável e biocompatível – com polímeros reciclados e foi desenvolvida na i.Cork factory, a fábrica-piloto e hub de inovação da Amorim Cork Composites, unidade de aglomerados compósitos da Corticeira Amorim, empresa portuguesa que é o maior grupo de transformação de cortiça do mundo. A criação desta nova tecnologia contou ainda com o contributo da Isigenere, uma das mais inovadoras empresas internacionais no desenvolvimento de sistemas solares flutuantes e criadora do sistema Isifloating.
O novo flutuador fotovoltaico fabricado com este novo compósito, para além da incorporação da cortiça, irá também substituir parte do plástico virgem utilizado nos flutuadores convencionais, por plástico reciclado. A EDP acredita que, com esta combinação mais sustentável, o projeto solar flutuante possa alcançar uma redução de, pelo menos, 30% da pegada de CO2 (será elaborado um estudo de análise de ciclo de vida – Life Cycle Assessment – para validação quer deste pressuposto, quer para análise da exequibilidade de metas mais ambiciosas para o futuro).
“Aliar inovação à sustentabilidade é uma estratégia que a EDP considera decisiva no desenvolvimento dos seus projetos e no contributo para uma transição energética que é urgente acelerar”, considera Ana Paula Marques, administradora executiva da EDP e presidente da EDP Produção. “É essa ambição que consubstanciamos em projetos como o parque solar flutuante do Alqueva, que marca um passo relevante na expansão e inovação no domínio das energias renováveis no nosso país e no compromisso com a sustentabilidade. Uma inovação que nasce de uma importante parceria entre grandes empresas, como é o caso da EDP, da Corticeira Amorim e da Isigenere, que investem continuamente na excelência, na inovação e no desenvolvimento, condições essenciais para um futuro mais sustentável”, remata.
“Desde há muito tempo que a cortiça é utilizada no mercado energético, mas o seu potencial está, agora, a ganhar uma nova força. Da energia solar e eólica, à mobilidade elétrica, a ambição passa por, a médio prazo, fazer deste setor um dos principais pilares de crescimento da Corticeira Amorim na área dos materiais compósitos”, sublinha António Rios de Amorim. Enaltecendo a vantagem de a cortiça “ter uma capacidade de contribuição negativa em termos de CO2,” o presidente e CEO da Corticeira Amorim reforça que “a aplicação deste material no setor da energia evidencia-se pelas suas características técnicas naturais. A resistência a temperaturas extremas, a compatibilidade química, a resiliência, as propriedades anti-vibráticas e a baixa condutibilidade térmica são atributos que valorizam o potencial desta matéria-prima em inúmeras aplicações deste setor”.
O desenvolvimento de soluções sustentáveis é também o objetivo da Isigenere que promove o uso de tecnologias de produção de energia renovável tendo a água como base para melhorar a eficiência desses sistemas, sem prejudicar os recursos hídricos ou ocupar solo. Desde a sua primeira instalação, em 2009, que a empresa tem mantido um espírito de inovação nos diferentes processos tecnológicos e uso de materiais com o propósito de ser mais sustentável – e esta parceria com a EDP e a Corticeira Amorim é mais um sinal desse compromisso. “A aplicação de cortiça no nosso sistema Isofloating é mais um passo no compromisso da Isigenere com a Sustentabilidade. A nossa experiência no solar flutuante já nos levou a desenvolver um sistema com menor emissão de CO2 na parte logística, que é fator-chave neste tipo de projetos. Agora avançamos com o uso de materiais naturais e inovadores que reduzem ainda mais o impacto de CO2, mantendo a elevada qualidade e durabilidade que distingue a nossa tecnologia”, explica Andrés Franco, presidente executivo da Isigenere.
Solar (ainda mais) inovador
As principais propriedades da cortiça – como a impermeabilidade, a leveza, a elasticidade, a compressibilidade e a resiliência – mantêm-se inalteradas, assegurando a performance do flutuador. Destaque-se ainda que, por cada tonelada de cortiça produzida, a floresta de sobreiros pode sequestrar até 73 toneladas de CO2. Um fator que reduz o impacto ambiental de qualquer solução final onde a cortiça é aplicada.
O facto deste flutuador fotovoltaico utilizar polímeros reciclados reforça igualmente o posicionamento da Corticeira Amorim em matéria de sustentabilidade ao colocar em ação os princípios de economia circular. Ao reutilizar estes materiais, a empresa evita o seu descarte em aterro, reduz a necessidade de extração de matérias-primas virgens e mitiga o desgaste dos recursos do planeta.
Com mais de 11 mil painéis fotovoltaicos e 25 mil flutuadores que ocupam quatro hectares na albufeira do Alqueva, junto à barragem, este parque é um dos mais inovadores projetos de energia solar da EDP. A previsão é que os trabalhos no terreno arranquem no verão e que, no final deste ano, já possa estar a produzir energia. Com uma capacidade de produção anual de 7,5 GWh, a expetativa é que venha a abastecer o equivalente a 25% dos consumidores da região (Portel e Moura).
O futuro parque solar, envolve um investimento superior a quatro milhões de euros e conta também com um sistema de armazenamento com baterias, integrado com a central hídrica do Alqueva, uma central hídrica com bombagem e um dos maiores sistemas de armazenamento de energia do país. Configurado num modelo de funcionamento híbrido, o sistema pretende demonstrar a sinergia entre os sistemas de armazenamento hídrico de longa duração, que permitem diferir o excesso de produção solar em horas de menor preço, para horas do dia com maior valor e os sistemas de armazenamento rápido, com baterias, que servirão para minimizar desvios de produção solar em mercado e oferecer serviços de flexibilidade rápidos, essenciais para um futuro sistema electroprodutor baseado apenas em energias renováveis.
Este projeto pretende posicionar-se como resposta ao mercado de energia do futuro, o qual, em conformidade com as metas do Acordo de Paris, ambiciona que 80% da eletricidade consumida em Portugal seja de origem renovável até 2030 Metas que estão em linha com o próprio compromisso da EDP que, de acordo com o mais recente Plano Estratégico, pretende ser 100% verde até ao final desta década.