Lembro-me de quando era criança visitar projetos de Frank Lloyd Wright com cortiça – como a Fallingwater House e a Martin House em Buffalo – e de me deparar com este ponto: um dos poucos materiais utilizados nos interiores que durou foi a cortiça. E a partir daí, e procurando utilizar materiais diferentes em projetos, quis realmente utilizar a cortiça como material devido às suas propriedades acústicas, absorção de impacto, durabilidade e o facto de ser um recurso renovável. Assim, do meu ponto de vista, a cortiça cumpre todos os requisitos e isto foi mesmo antes de analisar a questão do sequestro de carbono.
Do ponto de vista da circularidade e do sequestro de carbono, pelo facto de a árvore em si não ser cortada, pelo facto de ser um processo em que quase tudo pode ser utilizado, pelo facto de poder ser continuamente reutilizado, de não ter um fim de vida como outros materiais têm, tudo isto aponta para uma solução interessante e viável. O desafio, pelo menos nos Estados Unidos, é a escala. Por outras palavras, o tempo desde a semente até ao descortiçamento não é um único ciclo de crescimento. Por isso, estamos a olhar para horizontes temporais mais longos e que envolvem realmente aprendizagem, conhecimento, cultura, conceitos que eu penso que são também muito importantes. Portanto, uma das coisas que penso ser realmente interessante em relação à cortiça é a sua capacidade de nos fazer pensar em durações de tempo mais longas.
Realmente, foi o Daniel Michalik [designer e professor assistente de produto e design industrial na Parsons School of Design] que trouxe este projeto à Parsons e nós apoiámo-lo totalmente. Ele tem trabalhado com a cortiça como material para design industrial, mobiliário, interiores, ao longo de muitos anos, pelo que o seu interesse era tentar descobrir como é que realmente conseguimos recursos para os nossos estudantes se concentrarem neste material de forma intensiva, através deste programa chamado «The Thick Skin: Cork as Material for Design New Futures». Assim, o desafio aqui estava realmente em tentar reunir em torno da questão dos materiais a ideia de aprendizagem, mas também de experimentação e investigação. E fazê-lo de uma forma que leve o material a sério, tanto as suas propriedades como o seu potencial, e que também informe os estudantes de que não estão a trabalhar no vazio. Que este é um conhecimento que outras pessoas tinham, particularmente a Corticeira Amorim, e que é um conhecimento de base cultural. E não apenas para assumir que estão a pegar num material e a fazer coisas. Trata-se, na verdade, de olhar para coisas que foram feitas e de perceber como podemos construir com base nesse conhecimento.
Fazemos, mas não tão explicitamente com um material em particular. Por outras palavras, não há um grande número de materiais que tenham este vasto leque de impactos sociais e ambientais num sentido benéfico, como é o caso da cortiça. Assim, temos projetos e estudantes que efetivamente trabalham com madeira e têm estado a analisar as possibilidades do cânhamo, outro material regenerativo. Mas a cortiça, devido às suas propriedades únicas e à sua capacidade de ter um ciclo de vida circular completo e muito mais robusto, e devido ao facto de termos conhecimento e professores que podem facilitar este tipo de experiência e fazer ligações, e informar os estudantes de uma forma que eles sejam capazes de as desenvolver, é um material singular. O meu próprio interesse pela cortiça vem da observação de materiais regenerativos.
Depois de mais de 20 anos na Parsons, há um ano e meio, assumi a reitoria com a intenção real de ter um claro enfoque na abordagem da questão dos materiais nas práticas de design, para operar uma viragem da perspetiva em que ainda nos baseamos. Um processo industrializado onde pensamos no design como uma forma e depois aplicamos-lhe um material - que é o entendimento modernista dos materiais, os materiais são de facto subprodutos da forma - para uma inovação impulsionada pelos materiais.
Há uma mudança sistémica que tem de acontecer. Quando falamos de alterações climáticas, tendemos a cair essencialmente no discurso do «Juízo Final». E se for um estudante, vai dizer «Eu não criei o problema. Porque é que o problema é meu?». A questão é: quais são as ações que podemos fazer agora? Quais são as ações que podemos planear fazer daqui a 15 ou 20 anos? Não são a mesma coisa. Quais são as ações que podem ser feitas agora, dentro de cada uma das nossas disciplinas e esferas? Assim, a questão para os estudantes é dar-lhes o enquadramento e os materiais, em particular materiais como a cortiça, que os façam pensar: porque é que estamos a fazer isto em plástico se poderíamos estar a fazer isto a partir da cortiça? Porque estamos a desenhar isto de uma forma que não contempla os materiais? Portanto, cabe-nos a nós, enquanto faculdade, mudar a forma como estamos a falar de design, para a deslocarmos da identificação de problemas para uma perspetiva em que estamos realmente a criar condições educacionais, de modo a permitir que a mudança aconteça. E isto tem de acontecer não daqui a 10 anos, não daqui a 15 anos, mas agora. Portanto, este é o interesse de ter 10 a 12 estudantes envolvidos com a cortiça, porque assim podem tornar-se embaixadores para falar sobre o assunto aos colegas. Quais são as possibilidades, mas também as limitações. Quais são os materiais complementares. Queremos materiais que sejam regenerativos e transformadores. Não aqueles que são extrativos e redutores. E, portanto, isto é realmente emocionante.