A consideração, na tomada de decisões de investimento, de fatores ambientais, sociais e de governo societário, para além dos tradicionais fatores financeiros, é comummente designada por ESG, termo que decorre de E – Environmental, S – Social e G – Governance.
Os fatores ESG têm vindo a assumir uma crescente relevância para as empresas e os seus acionistas, alterando de forma estrutural e duradoura a forma como as empresas definem o seu propósito, a sua estratégia e a sua ação, por um lado; e, por outro, a forma como a comunidade – investidores, acionistas, trabalhadores e demais stakeholders, avaliam e ajuízam a empresa. A inclusão da componente de governo societário na análise de investimentos evoluiu consideravelmente nas últimas décadas e, de uma forma geral, as empresas são hoje bastante transparentes na disponibilização de informação relevante, pelo que a robustez, ou pelo contrário, a fragilidade dos modelos societários são bem percebidos pelos investidores. A consideração de fatores sociais e ambientais, no entanto, tem evoluído mais lentamente, sendo, durante muito tempo, percecionados como elementos qualitativos e intangíveis e, como tal, de difícil mensuração. Ainda que mais recentemente, o refinamento na sua identificação e análise e o aumento do reporte por parte das empresas tenham resultado num aumento da informação quantificável, o processo da sua incorporação nas decisões de investimento está ainda em forte evolução.
A aceleração recente desta nova dinâmica beneficiou decisivamente do aumento significativo de produtos de investimento focados em métricas ESG, da evidência de que a incorporação de fatores ESG se traduzem num melhor desempenho global das empresas, mais sustentável a médio/ longo prazo, e da consciencialização de que as questões ambientais e sociais podem reduzir o valor de uma empresa (inúmeros exemplos ilustram as perdas consideráveis para os acionistas registadas na sequência de acidentes ambientais, controvérsias sociais, ou modelos corporativos pouco robustos). Não é também de menosprezar o papel importante dos reguladores, quer a nível nacional como supranacional (nomeadamente a UE), clientes, fornecedores, colaboradores e outros stakeholders, que têm pressionado igualmente as empresas para adotarem comportamentos mais éticos, sustentáveis e criadores de valor no longo-prazo para toda a sociedade.
Se no passado investimentos sustentáveis eram uma preocupação marginal, a incorporação de fatores qualitativos e quantitativos de natureza ambiental, social e de governo societário no processo de análise de empresas é, hoje, uma importante componente de muitas estratégias de investimento, sendo transversal à grande maioria das gestoras de ativos. As suas abordagens, no entanto, podem divergir significativamente. Para algumas gestoras, a incorporação desses fatores continua a ser assegurada por processos de filtragem, que liminarmente excluem empresas que não cumprem os critérios definidos. Outras, têm procurado identificar riscos e oportunidades emergentes de fatores ESG e determinar se uma empresa está a gerir apropriadamente os seus recursos ambientais, sociais e de governo societário, de acordo com o seu modelo de negócio sustentável. Tem-se também assistido nos últimos anos ao lançamento de novos produtos e ao desenvolvimento de estratégias cada vez mais inovadoras cujo objetivo é identificar empresas que gerem com sucesso os riscos ESG e que, como tal, poderão beneficiar de oportunidades ESG no seu setor.
As questões ESG, particularmente ambientais e sociais, que podem ter um impacto material no desempenho financeiro de uma empresa, variam de setor para setor e até mesmo de empresa para empresa. Por exemplo, fatores ambientais como as emissões de CO2 ou o consumo de água são tipicamente significativos para empresas elétricas ou mineiras, mas relativamente imateriais para instituições financeiras. De uma forma geral, os fatores ambientais considerados materialmente relevantes incluem gestão de recursos naturais, prevenção de poluição, gestão e uso da água, eficiência energética e redução de emissões. Por seu lado, os fatores socais pretendem essencialmente avaliar a gestão do capital humano e do talento (direitos humanos, desenvolvimento e bem-estar das pessoas; desenvolvimento do produto; e, em alguns casos, impacto nas comunidades locais) e a capacidade de manter vantagens competitivas (retenção do pessoal, saúde e segurança no trabalho, formação e educação, diversidade, gestão da cadeia de valor).
Por último, os fatores de governance procuram aferir a robustez do modelo societário, incluindo análises da estrutura acionista, independência dos membros dos órgãos societários, política de remunerações, direitos dos acionistas e transparência do modelo de reporte.
Apesar dos avanços significativos dos últimos anos, as métricas ESG estão ainda a dar “os seus primeiros passos” quando comparadas com as financeiras e, como tal, grandes desafios se colocam no FUTURO. O primeiro, e talvez o mais importante, será assegurar a divulgação de informação de qualidade, sendo essencial a disponibilização de informação objetiva e precisa, bem como fomentar o aumento da transparência e o melhoramento do reporte. O segundo, prende-se com a necessidade de uma maior sistematização e uniformização da informação, por forma a facilitar a comparabilidade, fator crítico na seleção de empresas. Por último, é essencial que seja definida uma classificação robusta que clarifique os investidores acerca do processo de abordagem a temas ESG, por forma a assegurar que a comunicação transmitida é fidedigna – neste sentido, iniciativas como a criação de uma taxonomia e a revisão independente da informação são fundamentais.
A importância dos fatores ESG deverá continuar a crescer no FUTURO, moldando definitivamente as estratégias de um número crescente de empresas. Ainda que muitas continuem a encarar esta nova abordagem como um mero exercício de compliance ou como uma ferramenta adicional de gestão de risco, para muitas outras empresas é vista como um elemento crítico e integrante da sua estratégia, permitindo- lhe obter vantagens competitivas e aceder a fontes de financiamento de longo prazo em condições mais favoráveis. Os reguladores, investidores e o público em geral vão continuar a exigir que as práticas corporativas estejam alinhadas com os princípios universais, tais como meio-ambiente limpo, direitos dos trabalhadores, boas práticas de modelo societário. Além disso, o nível de exigência e de escrutínio por parte dos diferentes stakeholders, será cada vez maior, o que deverá contribuir para um maior rigor e sistematização no reporte e divulgação da informação.
Por último, mas igualmente importante, empresas que se antecipem à legislação de ESG e que desenvolvam estratégias de diferenciação baseadas em fatores ESG e de crescimento sustentável, deverão beneficiar de vantagens competitivas (“first-mover advantages"), resultando na capacidade de gerar retornos mais sustentáveis e criar uma maior notoriedade e uma melhor reputação no mercado. Serão percecionadas como empresas atrativas e, como tal, passarão a atrair o interesse de investidores de longo prazo. A criação de valor para os stakeholders no FUTURO passará necessariamente pela consideração de fatores ambientais, sociais e de governo societário como absolutamente críticos na vida das empresas.
Cristina Rios Amorim,
Administradora.