Diferentes conjugações de cortiça com componentes como borracha reciclada, EVA reciclada e Pu reciclada foram as escolhas dos responsáveis pelo desenho expositivo da segunda edição da Porto Design Biennale. Os materiais não cortiça são provenientes de excedentes das indústrias automóvel, calçado e pneu. O material cortiça, esse, provém dos subprodutos gerados durante o processo produtivo das rolhas de cortiça ou, então, da cortiça que não reúne as características adequadas para a sua produção.
O resultado é uma instalação constituída por 104 tubos que funciona como antecâmara do Museu da Matéria Viva, a exposição matriz da Porto Design Biennale 2021. A ideia desde o princípio era construir um playground com vida própria que convidasse os visitantes a imergirem na mostra. Um anfiteatro onde as pessoas sentissem desde logo o apelo dos materiais locais, sejam eles biológicos, técnicos ou híbridos, harmonizando-se com eles de forma a poderem cuidar melhor uns dos outros, de outros seres vivos, do solo, da água e dos elementos geológicos.
Ora, “como poderíamos desenhar o presente e esta exposição sem incluir a maior referência portuguesa no campo da sustentabilidade? Neste Museu, o da Matéria Viva, a AMORIM vive e dá vida. Desafiou-nos criativamente e desafiará certamente o público que a visita”, sustentam Miguel Flor e Cristina Hora, os criativos da instalação. Dupla que também utilizou painéis de cortiça, impressos através de serigrafia, para materializar todo o projeto de comunicação da exposição do Museu da Matéria Viva. Bancos e mesas forrados com cortiça são os outros objetos da mostra que usam a matéria-prima genuinamente portuguesa.
“Uma das principais estratégias, e ao mesmo tempo desafios, da Corticeira Amorim é precisamente a valorização da sua matéria-prima”, afirma Cristina Rios de Amorim. “Sob o mote nada se perde, tudo é valorizado, desde 1963 que a Corticeira Amorim desenvolve um esforço contínuo para otimizar o uso da cortiça e maximizar o valor de toda esta valiosa matéria-prima. Todos os subprodutos gerados no processo produtivo são incorporados noutras aplicações de elevado valor acrescentado. Mesmo a parte que não é passível de ser incorporada em novos produtos é valorizada como fonte de energia, a biomassa, considerada neutra em matéria de emissões de CO2.”
Mas a responsabilidade por esta “matéria viva”, a cortiça, vai muito além. Estende-se, por exemplo, ao apoio de várias iniciativas de recolha e reciclagem de cortiça nos cinco continentes e, embora nenhuma árvore seja cortada para a produção de cortiça, alguns destes programas, em particular o Green Cork em Portugal, contribuem para a reflorestação com árvores autóctones, incluindo sobreiros. Em 2020, a cortiça foi aproveitada a 100% no processo de produção, mais de 80% dos materiais consumidos pela Corticeira Amorim são renováveis (mais de 85% se também forem considerados os produtos reciclados), 90% de todos os resíduos não cortiça foram enviados para valorização, 66% da energia utilizada teve como fonte a biomassa (essencialmente pó de cortiça), e 736 toneladas de cortiça foram recicladas no fim de vida. Desde 2008, as receitas dos programas de reciclagem de cortiça permitiram plantar mais de 1 200 000 árvores autóctones em Portugal através do programa Floresta Comum da Quercus.
Organizada pela esad–idea, Investigação em Design e Arte e promovida pelos municípios de Porto e Matosinhos, a Porto Design Biennale visa promover o Design português em diálogo com o contexto global, assumindo a importância da disciplina na produção de cultura e conhecimento crítico e na resposta às questões mais prementes da contemporaneidade. A Porto Design Biennale, que teve a sua primeira edição em 2019, procura fomentar o Design enquanto idioma comum de reflexão, questionamento e partilha num contexto global de intensa incerteza e acelerada mudança. O conjunto de exposições, conferências, workshops e publicações que enformam a Porto Design Biennale, ainda que concentrados num período limitado de programação intensiva, ambicionam deixar um lastro contínuo de discussão e pensamento sobre o Design enquanto disciplina contemporânea de iminente protagonismo e responsabilidade na vida coletiva e na sobrevivência ambiental. A edição da Porto Design Biennale 2021, sob o tema Alter-Realidades: Desenhar o Presente, tem curadoria de Alastair Fuad-Luke. Nesta edição da PDB'21 pretende-se olhar para a prática do design como veículo para criar novas formas de nos relacionarmos com a cidade, sentirmos empatia pela vida que nos rodeia, aproximar-mo-nos de processos de produção locais e olharmos para o trabalho e o lazer sob a ótica do bem-estar.