A cortiça é um dos materiais escolhidos pelo artista chinês Ai Weiwei para a criação de obras originais em Portugal. Fornecida pela Corticeira Amorim, a matéria-prima genuinamente portuguesa corporiza Brainless Figure in Cork, um autorretrato de caráter escultórico do ativista. A peça, produzida pela Amorim Cork Composites, Unidade de Aglomerados Compósitos da Corticeira Amorim, a partir de aglomerado de cortiça de alta densidade, integra a exposição Ai Weiwei – Rapture que abriu portas na Cordoaria Nacional, em Lisboa, no passado dia 4 de junho.
Diferente de uma escultura tradicional, para a criação da obra Brainless Figure in Cork (91 x 81 x 148 cm), num primeiro momento foi utilizada uma máquina de corte CNC que garante precisão técnica. Em seguida, um artesão esculpiu alguns detalhes que somente métodos manuais são capazes de alcançar na perfeição. Tal como no ciclo da cortiça, este projeto artístico nasce da combinação entre o fazer manual, tecnologias de ponta e a grandiosidade da Natureza.
Três realidades que sustentam a longa história da Corticeira Amorim, como salienta Cristina Rios de Amorim: “partimos sempre das florestas de sobro que nos oferecem esse material único que é a cortiça, uma matéria-prima natural capaz de responder ao mais exigente dos desafios. O descortiçamento do sobreiro é realizado de nove em nove anos, sem o danificar, recorrendo a mão-de-obra especializada que ainda usa técnicas tradicionais baseadas na experiência e no conhecimento passado de geração a geração. À cortiça, juntamos ciência, inovação e tecnologia para chegarmos a produtos de alto valor acrescentado, que evidenciam as credenciais de sustentabilidade da cortiça. Neste pressuposto, é crescente a atração que artistas, designers, curadores e arquitetos têm pela cortiça e pelo vasto portfolio de produtos e aplicações que disponibilizamos. Uma lista que inclui quer os mais consagrados quer os emergentes talentos das diversas disciplinas artísticas”.
De resto, esta é a segunda vez que Ai Weiwei, um dos mais influentes artistas contemporâneos, trabalha cortiça da empresa portuguesa. A primeira ocasião aconteceu no âmbito do Serpentine Summer Pavilion 2012. Um projeto assinado, então, pelos arquitetos suíços Herzog & de Meuron e pelo artista chinês. Uma estrutura circular integrando cerca de 100 peças de mobiliário de aglomerado de cortiça nacional. O resultado do impacto deixa pouca margem para dúvidas: o mais visitado de todos os pavilhões de verão da famosa galeria de arte londrina.
A exposição Ai Weiwei – Rapture reúne 85 obras, entre fotografias, vídeos/filmes e instalações/esculturas de grande, média e pequena escala. Patente na Cordoaria Nacional até ao próximo dia 28 de novembro, a mostra traz a Portugal algumas das obras mais icónicas do artista chinês como é o caso de Forever Bicycles (2015), uma escultura monumental com 960 bicicletas de aço inoxidável, Snake Ceiling (2008), uma grande instalação em forma de cobra constituída por centenas de mochilas de crianças em memória aos estudantes mortos no terramoto de Sichuan, em 2008, ou Law of the Journey (Prototype B) (2016), um barco insuflável de 16 metros de comprimento com figuras humanas em alusão a um dos temas mais recorrentes na obra do artista: a crise global dos refugiados. Pedra, azulejo e tecidos são os outros materiais portugueses usados por Ai Weiwei na produção de outras tantas obras originais.
Fotografia: Juliette Bayen