Américo Ferreira de Amorim nasceu no dia 21 de julho de 1934, em Mozelos, concelho de Santa Maria da Feira, vindo a tornar-se num dos maiores empresários portugueses de sempre. Apaixonado pela geografia, exímio cultivador de relações diplomáticas e detentor de um raro talento para os negócios, inicia, aos 19 anos, a transformação da fábrica de rolhas de cortiça fundada, em 1870, pelo seu avô, António Alves de Amorim, no maior grupo transformador de cortiça a nível mundial. O percurso de um empreendedor notável que, encetado logo depois de terminado o Curso Geral do Comércio da Escola Académica, no Porto, ultrapassaria diversos condicionalismos industriais, várias crises económicas, diferentes regimes políticos, incontáveis barreiras territoriais e algumas revoluções dentro e fora de portas.
Uma personalidade vincada pela ousadia e pragmatismo, em que as viagens, o contato com distintas culturas e a vivência em diferentes países num contexto de mudança política ocuparam um papel central. De resto, seria numa primeira viagem realizada em 1955 pela Europa, acompanhado pelos irmãos José, António e Joaquim, os grandes companheiros de uma vida plena de triunfos, que o jovem Américo Amorim reforçaria a convicção de uma economia liberalizada, livre de bloqueios e à escala global. Começaria, então, a edificação do maior grupo de transformação de cortiça do mundo.
Uma preambular resolução é tomada em 1963 com a criação da Corticeira Amorim. Colocada a primeira pedra neste edifício de crescimento vertical, Américo Amorim liderará com inesgotável energia a abertura de uma unidade de isolamentos em Silves (Corticeira Amorim Algarve – 1967), o estabelecimento de uma unidade de pavimentos (IPOCORK – 1978) e a fundação de uma unidade de rolhas para vinhos espumosos (Champcork – 1983). Ainda no plano interno acompanha a construção de duas fábricas de preparação de matéria-prima (Ponte de Sor e Coruche).
Arrojado programa de crescimento que, e para amparar igualmente as válidas aspirações de sucesso além-fronteiras de Américo Amorim, seria ancorado com a entrada em bolsa em 1988. Os investimentos sucediam-se a um ritmo frenético: Amorim Cork América, Amorim France, Víctor & Amorim em Espanha, Amorim Cork Australasia, Indústria Corchera no Chile, Carl Ed. Meyer (atualmente Amorim Deutschland) na Alemanha, Global Technology Systems (atualmente Amorim Cork Composites Trevor) nos EUA, entre muito outros. As empresas da Corticeira Amorim apostavam em Investigação & Desenvolvimento, e emergiam os valores partilhados, reforçando a cultura coletiva, de orgulho, atitude, ambição, iniciativa e sobriedade. Esteios aos quais Américo Amorim juntava visão e ousadia, convicção e firmeza, transcritas numa das suas célebres máximas: “se me fosse possível, fazia todos os dias uma fábrica.”
Américo Amorim liderou a Corticeira Amorim durante décadas, sendo o percursor da profissionalização, da modernização, da inovação e da sustentabilidade, tanto da Corticeira Amorim como de todo o setor da cortiça. Sabia como ninguém congregar numa única direção as competências, méritos e o know-how complementar dos irmãos José (floresta e aprovisionamento), António (gestão industrial e responsabilidade social) e Joaquim (relações exteriores).
Ao mesmo tempo, enquanto construía o maior grupo de transformação de cortiça do mundo, Américo Amorim diversificava interesses e investimentos. Banca (fundação do primeiro banco privado português – BCP), telecomunicações (consórcio vencedor do primeiro operador privado de telecomunicações móveis em Portugal – Telecel), turismo e leisure (joint-venture com o grupo francês ACCOR, o maior operador hoteleiro mundial; aquisição da Sociedade Figueira Praia, S.A., aquisição de participação qualificada na Estoril-Sol, S.G.P.S., S.A.), imobiliário (criação da Amorim Empreendimentos Imobiliários), energia (integra a Finpetro - consórcio de investidores para a aquisição da Petrogal - Petróleos de Portugal) e vinhos (compra da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo) seriam apenas algumas das áreas alvo da atenção diligente de Américo Amorim. Um conglomerado económico que faria tal-qualmente caminho na esfera privada do empresário que entraria no capital da Galp, do Banco Popular Espanhol, da Tom Ford International, etc.
Referido pela revista Forbes em 1992 como "o Rei da Cortiça", Américo Amorim foi o primeiro português a quem o Conselho de Curadores da St. John University, de Nova Iorque, decidiu atribuir o Doutoramento Honoris Causa. António Ramalho Eanes, por proposta do Governo, entregou-lhe a comenda da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial, na classe de Mérito Industrial. A função de Cônsul-geral honorário da Hungria em Portugal foi outros dos papéis desempenhados com o garbo de sempre.
Américo Amorim prevalece na História de Portugal como uma das mais importantes personalidades, enquanto empreendedor e criador de riqueza. Homem de rigor, ética e moral. Conseguiu ver para lá do imediato, demonstrou estar à frente do seu tempo e criar, constantemente, pontes com o futuro.
Marido extremoso, pai presente e avô orgulhoso, Américo Amorim casou com Maria Fernanda Amorim, tiveram três filhas, Paula, Marta e Luísa, e o seu deleite eram os netos, a quem nunca negava um largo sorriso. Américo Amorim faleceu no dia 13 de julho de 2017.
Hoje, no dia em que se assinalam 90 anos do seu nascimento, reconhecidos e orgulhosos do legado recebido de Américo Amorim, continuamos, sempre com o mesmo sentimento e sentido de responsabilidade, a dar sequência e a desenvolvendo o legado e, dessa forma, a honrar a memória de Américo Amorim.
“Somos aquilo que fazemos consistentemente. Assim, a excelência não é um ato, mas sim um hábito.”
Américo Amorim (1934-2017)