Nascido em Mozelos, concelho de Santa Maria da Feira, decorria o ano de 1934, Américo Amorim viria a transformar-se num dos maiores empresários portugueses de sempre. Apaixonado pela geografia, exímio cultivador de relações diplomáticas e detentor de um raro talento para os negócios, Américo Amorim transformaria uma herança de 2,5% de uma fábrica de rolhas fundada pelo avô em 1870, António Alves de Amorim, no maior grupo do setor da cortiça de que hoje é líder mundial.
Uma personalidade vincada pela ousadia, pragmatismo e desassombro em que as viagens, o contato com distintas culturas e a vivência de múltiplos hábitos, valores e costumes ocuparam um papel central. De resto, seria numa primeira viagem realizada em 1955 pela Europa, acompanhado pelos irmãos José, António e Joaquim, os grandes companheiros de uma vida plena de triunfos, que o jovem Américo Amorim reforçaria a convicção de uma economia liberalizada, livre de espartilhos e à escala global. Começaria, então, a edificação do maior grupo de transformação de cortiça do mundo.
Incansavelmente em busca desse desiderato, seguir-se-iam périplos pela América Latina, Europa de Leste e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Na verdade, e ao arrepio do que seria expectável para a época, tendo em atenção o regime político vigente em Portugal, Américo Amorim requer um visto para visitar Moscovo. Corria o ano de 1958, Américo Amorim tinha 24 anos e o universo dos negócios aguardava a sua certa conquista. Conheceu os meandros daquele país, ganhou a confiança dos soviéticos, angariou reconhecimentos, construiu amizades e regressou ao território russo. Mas, sobretudo, franqueou um colossal mercado para as empresas Amorim. Paralelamente, a experiência revelaria a sua cultura de abertura, tolerância e audácia quando o assunto era a cortiça.
A mesma postura daria novamente frutos anos mais tarde quando, e ao abrigo de resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) destinadas a isolar Portugal nas áreas diplomática, comercial, marítima, aérea, militar e financeira em reconhecimento da legitimidade dos movimentos de independência das colónias portuguesas, Américo Amorim decide fundar uma empresa na capital austríaca, a Gerhard Schiesser, Ges.mbH, que servisse de entreposto da cortiça Amorim destinada ao Leste. O processo de internacionalização caminhava, então, a passos largos para uma velocidade cruzeiro, estabelecendo-se posições estratégicas, duradouras e progressivas no exterior. Mas Américo Amorim perseguia também um outro objetivo: a expansão da base industrial, concentrando em Portugal todo o processamento da cortiça.
Uma preambular resolução é tomada em 1963 com a criação da Corticeira Amorim. Uns singelos 93 anos depois do arranque em Vila Nova de Gaia. Pouco mais de quarenta anos após a constituição da Amorim & Irmãos em Santa Maria de Lamas. O desígnio é transformar 70% dos desperdícios produzidos pela Amorim & Irmãos derivados da fabricação de rolhas em grânulos e, posteriormente, converter estes grânulos em valiosos aglomerados com os quais fosse possível produzir um conjunto de novas aplicações em cortiça. Colocada a primeira pedra neste edifício de crescimento vertical, Américo Amorim liderará com inesgotável energia a abertura de uma unidade de isolamentos em Silves (Corticeira Amorim Algarve - 1967), o estabelecimento de uma unidade de pavimentos (IPOCORK - 1978) e a fundação de uma unidade de rolhas para vinhos espumosos (Champcork - 1983). Ainda no plano interno acompanha a construção de duas fábricas de preparação de matéria-prima (Ponte de Sor e Coruche).
Arrojado programa de crescimento que, e para amparar igualmente as válidas aspirações de sucesso além fronteiras de Américo Amorim, seria ancorado com a entrada em bolsa em 1988 (inicialmente Amorim & Irmãos, Corticeira Amorim, IPOCORK e Champcork, mais tarde, através de uma oferta pública de troca, Corticeira Amorim). Os investimentos sucediam-se a um ritmo frenético (Amorim Cork América, Amorim France, Víctor & Amorim em Espanha, Amorim Cork Australasia, Indústria Corchera no Chile, entre outros), as empresas Amorim apostavam em Investigação & Desenvolvimento, e emergia o espírito Amorim escorado no orgulho, na atitude, na ambição, na iniciativa e na sobriedade. Esteios aos quais Américo Amorim juntava visão, convicção e firmeza que corporizavam uma das suas célebres máximas: “se me fosse possível, fazia todos os dias uma fábrica.”
Frequentemente identificado como um autêntico ministro dos Negócios Estrangeiros, Américo Amorim colocava tais valências ao serviço de toda a fileira da cortiça: foi presidente do pioneiro Grémio Regional dos Industriais de Cortiça do Norte, foi presidente da subsequente Associação dos Industriais de Cortiça do Norte e foi presidente da Confédération Européenne du Liège. Homem de ação, determinado e inovador, criaria uma inédita Comissão de Publicidade focada na competente promoção mundial do sector da cortiça português. Além disso, instituiu uma prática sistemática de convites a delegações estrangeiras para visitas às florestas de sobro, às unidades industriais de transformação da cortiça e aos centros de investigação.
Líder incontestado entre os seus mais próximos, sabendo congregar numa única direção as competências, os méritos e o know-how complementar dos irmãos José (floresta e aprovisionamento), António (gestão industrial e responsabilidade social) e Joaquim (relações exteriores), Américo Amorim viria a promover a passagem de testemunho da presidência da holding Corticeira Amorim em 2001, indicando o sobrinho António de Rios Amorim como seu sucessor. Mantendo-se durante bem mais de uma década como conselheiro da empresa. Prolongando o título de Rei da Cortiça atribuído pela revista Forbes vinte anos atrás (1992). Américo Amorim foi o primeiro português a quem o Conselho de Curadores da St. John University, de Nova Iorque, decidiu atribuir o Doutoramento Honoris Causa. António Ramalho Eanes, por proposta do Governo, entregou-lhe a comenda da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial, na classe de Mérito Industrial.